Por
Bruno Montarroyos
A
parábola abaixo faz um reducionismo de toda uma nação a uma
pequena comunidade. Além disso, não é uma parábola escrita por um
economista, logo não se deve esperar conhecimentos maiores do que os
de um mero curioso amador nesta área. Apesar do pecado reducionista
e da limitação dos conhecimentos econômicos do autor, pode
facilmente ser o ponto de partida para o caminho de uma compreensão
mais complexa, como merece um sistema de relações tão complexas
como um país. Vamos a ela:
Era
uma vez um fazendeiro que descobriu que em suas terras havia ouro.
Resolveu, então, contratar nove famílias para trabalhar em suas
terras. A contratação se deu da seguinte forma:
-
Uma das nove famílias seria a governanta do empreendimento,
recebendo um salário familiar de R$ 15.000,00;
-
Duas das nove famílias seriam supervisoras e receberiam cada uma o
salário familiar de R$ 1.500,00 cada;- As outras seis famílias seriam as operárias e receberiam o salário familiar de R$ 200,00 cada.
A
empreitada deu certo e rendiam ao fazendeiro, depois de retirados os
custos com os trabalhadores, o lucro de R$ 5.000.000.000,00 (5
bilhões de reais) por ano.
A
comunidade tinha, então, um PIB de 5 bilhões de reais.
Mas
na verdade uma outra fazenda também operava com os mesmos números,
tudo igual.
Fazendas
1 e 2 – Ano 1
Qtd. de Famílias
|
Renda Familiar
|
1
|
R$ 5.000.000.000,00
|
1
|
R$ 15.000,00
|
2
|
R$ 1.500,00
|
6
|
R$ 200,00
|
PIB:
5 bilhões
No
segundo ano cada fazenda optou por diferentes políticas em seus
negócios:
O
primeiro fazendeiro viu que poderia ter mais rendimentos caso
aumentasse o trabalho de seus funcionários. Achou também que os
seus salários estavam altos e que se os reduzisse poderia tê-los
ainda mais comprometidos com o trabalho, pois dependeriam ainda mais
dele.
Manteve
o salário da família governanta, de R$ 15.000,00, abaixou o salário
das supervisoras para R$ 800,00 cada e o das operárias para R$
100,00 cada, dobrando as horas de trabalho.
Com
o aumento do trabalho foi possível alcançar um rendimento de
7.000.000.000,00 (7 bilhões de reais) neste ano. O PIB subiu de 5
para 7 bilhões, ou seja, crescimento da economia da ordem de 40%,
coisa de louco. Qualquer Mirian Leitão diria que se trata de um
crescimento para ninguém botar defeito.
Fazenda
1 – Ano 2
Qtd. de Famílias
|
Renda Familiar
|
1
|
R$ 7.000.000.000,00
|
1
|
R$ 15.000,00
|
2
|
R$ 800,00
|
6
|
R$ 100,00
|
PIB:
7 bilhões (Crescimento de 40% ano)
O
segundo fazendeiro decidiu diferente. Ele achou que poderia melhorar
a vida de seus trabalhadores. Aumentou o salário da família
governanta para R$ 17.000,00, das supervisoras para R$ 2.000,00 cada
e das operárias para R$ 1.000,00 cada. Além disso, reduziu à
metade a jornada de trabalho para todas as famílias. Claro que com
essas medidas ele passaria a lucrar menos. E os seus rendimentos
foram de 5 para 3 bilhões de reais. A comunidade experimentou uma
contração de 40% em sua economia, desastre total segundo as Mírians
Leitões por aí.
Fazenda
2 – Ano 2
Qtd. de Famílias
|
Renda Familiar
|
1
|
R$ 3.000.000.000,00
|
1
|
R$ 17.000,00
|
2
|
R$ 2.000,00
|
6
|
R$ 1.000,00
|
PIB:
4 Bilhões (Contração da produção de 40% ano)
Pergunto:
Se a sua família não fosse a família do fazendeiro e nem a família
governanta, mas fosse uma das oito demais famílias, dentre as dez da
comunidade, qual dessas comunidades você gostaria de habitar? A que
está crescendo a uma taxa de 40% ao ano ou a que está com uma
contração de 40% ao ano? Preferiria ter a renda familiar diminuída
de R$ 1.500,00 para R$ 800,00, de R$ 200,00 para R$ 100,00 na
comunidade de crescimento econômico? Ou preferiria ter a renda
familiar aumentada de R$ 1.500,00 para R$ 2.000,00, de R$ 200,00 para
R$ 1.000,00 na comunidade que o PIB contraiu em vez de crescer?
E
aí, o que importa mesmo é a taxa de crescimento do país ou a forma
como a renda está distribuída neste país e as mudanças na qualidade de vida da população? O que acha? Acha que a
nossa imprensa se preocupa mais com que tipos de dados, os meramente
econômicos ou os socioeconômicos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário