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Que bom você por aqui. Sinta-se em casa. Espero que as nossas humanidades se encontrem aqui. Neste blog você encontrará textos sobre assuntos variados que traduzam com palavras simples e críticas esses caminhos e descaminhos que a humanidade percorre na estrada da vida, expressos através de um desejo profundo e intimamente meu: Quero ser mais humano: menos hipocrisia, menos espiritualidade alienante, menos moralidade vazia, muito mais HUMANO."

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Aprendendo a ver com Mônica e Cebolinha

 

A tarefa dizia mais ou menos assim: "Com a ajuda de um adulto, observe a cena abaixo, diga o que você consegue ver para que o adulto escreva nas linhas abaixo da cena".

Era a tarefa da escola de Sofia, minha filha do meio (4 anos). A cena era um desenho de Cebolinha e Mônica, sentados em um sofá, enquanto assistiam à televisão. Cebolinha demonstrava medo e Mônica comia pipoca.

- Entendeu, Sosô? Como você já escreve, então qual o adulto que vai escrever?

- Nenhum, respondeu ela, eu mesma vou escrever.

- Muito bem, então, o que você vai escrever?

- Mônica, Cebolinha, Sofá, Televisão…


Parei um pouco para pensar como melhor estimular a minha filha. Disse a ela que essa era uma forma sim, de responder, mas que ela podia ver mais coisas. Então comecei a falar em tom de contador de histórias, dizendo: - Veja só (fazendo um quadro com as mãos, afastado, olhando em sua direção), o que eu estou vendo nesta cena: Em uma sala, Sofia está sentada à mesa, para fazer a sua tarefinha, segurando a mamadeira da sua irmã, Lis, enquanto dá gargalhadas (as gargalhadas já eram pela palhaçada do pai-palhaço).

Depois de estimulá-la um pouco mais, a deixei escrevendo (ela não queria que eu visse enquanto não terminasse) e o texto final ficou mais ou menos assim: "MONICA E CÉBOLINHA ESTÃO ASISTINDO TELEVISÃO CEBÔLINHA ESTA CON MEDO DEVE SER UN FIUMI DE TERROR MONICA ESTA COMENDO PIPOCA."

Ajudei Sofia a corrigir os pequenos erros ortográficos, mas não pude deixar de perceber o resultado do estímulo, pois além de descrever o que está na cena, ela conseguiu ir além, pois a afirmação que "deve ser um filme de terror" está fora da cena.


Pensando no fato, não deixo de lamentar a falta de estímulo à atividade docente no Brasil. Quantos adultos, eleitores, cidadãos, temos hoje formando a nossa população brasileira, que só conseguem enxergar os elementos da cena, sem fazer nenhum tipo de análise de conjuntura? Eles vêem a Mônica, o Cebolinha, o sofá, a TV, mas não foram estimulados a enxergar o que acontece na cena, como as personagens interagem, como o ambiente é alterado pelo movimento das personagens.

Quem não consegue interpretar a própria visão, submete-se às interpretações alheias. Eu poderia dizer à Sofia: - Mas você não consegue ver que Cebolinha está lambendo os dedos e rindo e que Mônica está comendo jujubas? O filme deve ser uma comédia. É mais ou menos isso o que uma imprensa pode fazer para manipular gente que não foi estimulada à interpretar de forma autônoma as cenas que se colocam diante de si.

Em um contexto desse, por exemplo, poderia um dia acontecer de uma notícia boa ser dada como ruim. Imagina se um dia, quando acontecesse de em um País, de a conjuntura permitir combater melhor a corrupção. Imagina se isso acontecesse. Seria a primeira vez que a corrupção apareceria gigante, já que estaria se permitindo tratar. A notícia boa poderia ser dada como ruim, não acha? Poderiam dizer que nunca houve tanta corrupção. Imagina se um dia a classe mais pobre estivesse um pouco mais capaz de enxergar, se houvesse mais gente bem informada que pudesse lutar, que as pessoas sentissem necessidade não mais pelo pão que faltava, mas por coisas maiores como educação, saúde, etc. A notícia boa do povo estar mais capaz de exigir os seus direitos e estarem fazendo isso, poderia ser dada como uma notícia ruim de que o povo nunca esteve tão insatisfeito com o governo.

Não estou querendo dizer que isso acontece, mas poderia acontecer um dia, não acha? E para as pessoas que só conseguem enxergar a Mônica, o Cebolinha, o Sofá e a TV, poderia ser mais difícil de enxergar o filme de terror e acharem que era só uma comédia.
Bruno Montarroyos
Mestre em Ciência Política (Relações Internacionais) pela UFPE
Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas Regionais e do Desenvolvimento - D&R-UFPE (CNPq)
Pastor Batista, membro-fundador da Aliança de Batistas do Brasil
bmontarroyos@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/6581290148822998

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